Começa junto com o ano a maratona de impostos. ⭐ Em janeiro, começam a “dar as caras” o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). E é comum que municípios e estados ofereçam descontos para quem optar por quitar essas dívidas à vista. Nos casos das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, por exemplo, esse abatimento do valor cheio do imposto varia de 3% (para os IPVAs e o IPTU paulistano) a 7% (para o IPTU carioca).
Mas vale a pena pagar o IPVA e o IPTU à vista?
Depende do desconto e das condições de parcelamento, mas é possível dizer que o pagamento à vista é quase sempre mais vantajoso. Só que, antes da análise matemática, cabem duas ressalvas já feitas pelo especialista em finanças e colunista do Valor Investe, Carlos Heitor Campani:
Essa discussão só faz sentido para quem tem o dinheiro para pagar essa conta à vista. Sem o capital para liquidar a dívida em parcela única, “a alternativa de pegar dinheiro emprestado no banco (ou ficar devedor no cheque especial) é totalmente inviável porque estas e outras linhas de crédito acessíveis são caras e posso afirmar que os descontos concedidos nos impostos jamais valerão a pena”, escreveu o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na sua coluna.
A relação que se tem com o dinheiro, embora não contabilizável, também pesa sobre essa decisão. Quem se enrola com os prazos para pagamentos das contas ou corre o risco de gastar a grana com outras coisas deve priorizar o pagamento à vista, segundo o especialista.
Superadas essas questões, suponhamos que o cidadão tenha o dinheiro para quitar a dívida à vista e também se considere um pagador assíduo. O que compensa?
Neste caso, toma-se como referência a taxa básica de juros, a Selic, ou a taxa DI, que remunera um dos principais produtos bancários de investimento: o CDI. O pagamento à vista se torna menos atraente se houver possibilidade de investir o dinheiro com rendimento líquido maior que o desconto oferecido.
“A principal métrica de um desconto para pagamento à vista se refere à taxa de investimento implícita que o desconto oferece. Para entender esse conceito, pense que ao pagar à vista, você está trocando parcelas mensais que somam um montante maior que o pagamento à vista (exatamente por este oferecer um desconto). Logo, há uma taxa de juros implícita nessa conta que iguala o seu pagamento à vista às parcelas futuras”, explicou Campani na sua coluna para o Valor Investe.
As questões interferem, portanto, nessa avaliação do que vale mais a pena são: o desconto do pagamento à vista, o número de parcelas no pagamento e em que produto financeiro o dinheiro será investido do pagamento a prazo.
Ambas as taxas são extremamente próximas, beirando os 11,75%, o que não deve se manter ao longo do ano. Já há previsão de a Selic descer mais – até 10,75% ao ano, pelo menos, com grandes chances de ir além.
O patamar atual da taxa básica equivale a 0,97% ao mês, mas o retorno líquido, no entanto, descontado o imposto de renda (alíquota de 17,5%), pode ser de uma taxa referência líquida no intervalo que vai de 0,7% a 0,83% ao mês, de acordo com o produto de renda fixa investido.
Na tabela abaixo, criada pelo professor da UFRJ Heitor Campani, é possível confrontar esses dados sobre se vale mais a pena parcelar ou pagar à vista com desconto. Neste caso, para que a comparação seja válida, a data de pagamento da primeira parcela e a da cota única precisam coincidir.
Para determinar quando vale a pena parcelar, cruza-se na tabela a coluna correspondente ao desconto oferecido no pagamento à vista com a linha de número de parcelas. Por exemplo, o IPVA paulista, que oferece desconto de 3% no pagamento da cota única ou a possibilidade de parcelar o valor integral em até 10 vezes.
Cruza-se, neste caso, a coluna 3% com a linha de 10 parcelas, que indica uma taxa interna de retorno igual a 0,68%. Como esta taxa é menor que a taxa de referência líquida (entre 0,70% a 0,83%), por isso, neste caso – e supondo que a referência não desça abaixo dos 0,68% indicado no quadro (o que pode acontecer, com os cortes sucessivos na Selic) – o pagamento prazo valeria mais a pena.
Casos que apontam para esse tipo de conclusão, de que vale mais a pena parcelar, são raros, no entanto. Pela tabela, quase não há números abaixo dos 0,7%, piso para a taxa referência líquida hoje (e que deve cair ainda mais com os cortes na Selic).
Além disso, é preciso saber investir esse capital na renda fixa para realmente compensar a troca do desconto à vista pelo valor cheio no parcelamento.
Na dúvida, impera a sabedoria do ditado: “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. Quer dizer, tendo o capital, melhor garantir o desconto na liquidação da dívida do que correr o risco de se enrolar no caminho.
Perguntas frequentes após a conclusão:
1. Qual é a diferença entre a Selic e a taxa DI?
2. Qual é a importância de considerar a taxa de investimento implícita no pagamento à vista?
3. Como determinar se vale mais a pena parcelar ou pagar à vista com desconto?
4. Por que quase não há casos em que vale mais a pena parcelar do que pagar à vista?
Como editor do blog “Poupanca.net.br”, trago uma visão única sobre finanças digitais e tecnológicas, combinando minha formação em Sistemas para Internet pela Uninove com meu interesse em economia. Meu objetivo é fornecer insights e análises atualizadas sobre como a tecnologia está impactando o mundo financeiro. Junto com nossa equipe, buscamos oferecer aos leitores uma compreensão abrangente do universo das finanças.