Dragão da inflação devora carne que argentino adoraria saborear

Comer carne bovina na Argentina vai além de simplesmente se alimentar, é praticamente uma questão de honra. O famoso “asado” (churrasco) é um dos pilares da cultura gastronômica do país, sendo preparado com carne de um rebanho robusto, composto em sua maioria por raças britânicas Hereford e Aberdeen Angles. Além disso, a cultura argentina também se destaca pelo consumo de “yerba mate”, uma infusão apreciada em uma cuia e sorvida por uma bomba de metal, que todos os adultos argentinos carregam consigo, em casa ou pelas ruas.

No entanto, recentemente foi divulgada uma projeção que aponta uma queda no consumo médio anual de carne na Argentina, estimando-se em 44,8 kg por habitante até o final de 2024, o valor per capita mais baixo desde 1914. A inflação elevada é apontada como a grande vilã, prejudicando o poder de compra da classe média e das classes mais vulneráveis do país, onde o índice de pobreza chega a quase 60% da população.

Essa situação reflete diretamente no dia a dia dos argentinos, especialmente no que diz respeito ao consumo de carne. O empresário Oscar Zoanni, por exemplo, costumava fazer churrasco semanalmente, porém, devido aos altos preços da carne bovina, agora só realiza o churrasco uma vez por mês, utilizando cortes mais baratos. O cenário também afeta os restaurantes, com preços impraticáveis, levando a uma redução na demanda.

Diante desse contexto, o turismo na Argentina também enfrenta uma crise, com uma queda significativa no fluxo de visitantes, incluindo os brasileiros. Restaurantes tradicionais no país, como a parrilla Don Julio, tentam manter os preços estáveis para não afastar os clientes, mas a redução na demanda já é perceptível. A crise econômica reflete-se na queda do faturamento e na diminuição do turismo no país, sendo que conseguir uma reserva em locais renomados como o Don Julio já não é mais tão desafiador como anteriormente.